segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Suplementação de vitamina D em adultos saudáveis: essencial ou dispensável?

Na busca por um estilo de vida mais saudável, muitas pessoas empregam diariamente suplementos vitamínicos contendo vitamina D. Um estudo recente publicado na revista “The Lancet” traz novas conclusões para este tema controverso. Enquanto alguns especialistas sugerem que a deficiência de vitamina D seja responsável por um grande número de doenças como câncer, doenças cardiovasculares, diabetes e maior risco de morte, outros defendem que o déficit seja, provavelmente, a consequência da doença em si e não sua causa.




Com o objetivo de esclarecer estas divergências, o estudo, realizado por pesquisadores da Universidade de Auckland, Nova Zelândia, analisou mais de 40 trabalhos que relataram os efeitos da suplementação de vitamina D, isoladamente ou em associação com cálcio, em diversas doenças e não observou redução de risco em indivíduos saudáveis. O grupo constatou que a suplementação de vitamina D não altera em níveis significativos o risco de desenvolvimento de doenças cardíacas, problemas cerebrovasculares, câncer e fraturas. Desta forma, os pesquisadores afirmam não existir base para a prescrição de suplementos de vitamina D em pessoas que não sejam classificadas como pacientes de risco.

Entretanto, é importante lembrar que a suplementação ainda é recomendada em grupos específicos como crianças, grávidas e idosos1. Atualmente, a vitamina D é empregada para prevenção e tratamento de raquitismo, osteomalacia e osteoporose, evitando ainda a ocorrência de fraturas em idosos, quando empregada em associação ao cálcio2. A vitamina D também deve ser administrada por 24 meses às crianças de pele escura por sua incapacidade de produzir quantidades suficientes de vitamina pela pele3.

Saiba mais sobre a vitamina D:
O termo vitamina D é utilizado para representar duas principais substâncias: colecalciferol (vitamina D3) e ergocalciferol (vitamina D2). Ambas, após absorção, devem sofrer modificações no fígado e nos rins gerando o calcitriol, a forma ativa que atuará em diversos órgãos4. Existem poucas fontes de vitamina D na alimentação, das quais as principais são gema de ovo e óleo de peixe. Entretanto, existe uma segunda via, mais importante, onde a vitamina D é produzida através da luz solar atuando sobre precursores presentes naturalmente na pele5.

Antes que você fique horas no sol para garantir bons níveis de vitamina D, vale destacar que é necessária apenas uma pequena exposição para produção de quantidade suficientes: em torno de 5-10 minutos, duas a três vezes por semana e apenas em uma pequena superfície corporal (mãos, braços e face)6. Para países de clima tropical, essa exposição é facilmente atingida por pessoas saudáveis e, geralmente, o uso de protetores solares não causa deficiências na produção desta vitamina7.

A função central da vitamina D é manter as concentrações de cálcio e fosfato no sangue em níveis adequados, regulando sua absorção e excreção. Consequentemente, a redução nos níveis de vitamina D resulta em absorção inadequada destes, culminando em osteomalacia em adultos, uma doença caracterizada por acúmulo de matriz óssea não mineralizada4. Em contrapartida, o excesso de vitamina D pode resultar em níveis elevados de cálcio. O uso crônico de altas doses de vitamina D pode produzir fraqueza, estado mental alterado, lesões renais e arritmias cardíacas8.

Fontes:
1.Bolland MJ, Grey A, Gamble GD, Reid IR. The effect of vitamin D supplementation on skeletal, vascular, or cancer outcomes: a trial sequential meta-analysis. The Lancet Diabetes & Endocrinology, doi:10.1016/S2213-8587(13)70212-2.
2. Drugdex® System. Thomson Micromedex, Greenwood Village, Colorado, USA. Disponível em: http://www.thomsonhc.com. Acesso em: 29 de janeiro de 2014.
3. Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Formulário terapêutico nacional 2010: Rename 2010/ Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.
4. Friedman PA.Chapter 44. Agents Affecting Mineral Ion Homeostasis and Bone Turnover. In:Brunton LL, Chabner BA, Knollmann BC. eds.Goodman & Gilman's The Pharmacological Basis of Therapeutics, 12e. New York: McGraw-Hill; 2011.
5. Marneros AG, Bickers DR. Chapter 56. Photosensitivity and Other Reactions to Light. In:Longo DL, Fauci AS, Kasper DL, Hauser SL, Jameson J, Loscalzo J. eds. Harrison's Principles of Internal Medicine, 18e. New York: McGraw-Hill; 2012.
6. Wannmacher L. O papel do cálcio e da vitamina D na prevenção de fraturas ósseas. Em Uso Racional de Medicamentos – temas selecionados. Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos estratégicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.
7. Lim HW. Chapter 223. Photoprotection. In:Goldsmith LA, Katz SI, Gilchrest BA, Paller AS, Leffell DJ, Wolff K. eds. Fitzpatrick's Dermatology in General Medicine, 8e.New York: McGraw-Hill; 2012.
8. Wong J. Chapter 155. Vitamins. In:Olson KR. Eds. Poisoning & Drug Overdose, 6e.New York: McGraw-Hill; 2012.


Fernanda L. da S. Machado
Farmacêutica

Revisão: Danielle Maria de Souza Sério dos Santos

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