quinta-feira, 3 de abril de 2014

O que você precisa saber sobre a pílula do dia seguinte


A gravidez é uma das principais preocupações de mulheres em idade fértil e talvez por isso, o tema anticoncepcional seja sempre tão frequente nas conversas, reportagens e em diversos fóruns na internet. O termo anticoncepcional ou contraceptivo engloba todos os métodos capazes de evitar a gravidez.


A incidência de gravidez em relações sexuais sem proteção é estimada em 8%, considerando todo o ciclo menstrual. Dentre os métodos contraceptivos, a pílula do dia seguinte, considerada um contraceptivo de emergência, reduz o risco de gravidez para 2% (1). Logo, este método deve ser empregado quando não foi utilizado nenhum outro ou quando o método contraceptivo de rotina apresentou alguma falha, em situações como:

-  rompimento da camisinha;
- quando a paciente esquece de tomar a pílula por:
o    2 ou mais dias, para as pílulas que contém estrógeno e progestina;
o    1 ou mais dias, se forem pílulas contendo somente progestina;
- atraso em mais de 2 semanas na aplicação da injeção contendo progestina;
-  atraso em mais de 3 dias na aplicação da injeção contendo estrógeno e progestina;
-  suspensão do uso do adesivo com contraceptivo por mais de 24 horas;
-  remoção do anel vaginal por mais de 3 horas;
-  saída parcial ou completa de dispositivo intrauterino (DIU);
-  falha, deslocamento ou uso incorreto de diafragma ou camisinha feminina;
-  uso de medicamentos que podem afetar o desenvolvimento do feto, como isotretinoína ou talidomida, sem o uso conjunto de um método contraceptivo eficaz;
- uso de medicamentos que diminuem o efeito de anticoncepcionais (2).

A composição dos medicamentos que são empregados como anticoncepcionais de emergência é semelhante aos anticoncepcionais regulares, porém as doses de hormônio são maiores. Atualmente, as opções disponíveis incluem a combinação de estrógeno e progestina (etinilestradiol e levonorgestrel) ou somente a progestina isoladamente (levonorgestrel). Estudos revelam que a progestina isoladamente é mais eficaz e tem menor chance de causar efeitos adversos (1). Em ambos os casos, as pílulas impedem a gravidez ao alterar ou inibir a ovulação e também por afetar a parede do útero, evitando a implantação do embrião (3).

A eficácia máxima é obtida se a primeira dose for administrada em 72 horas (3 dias), mas alguns estudos revelam que a pílula do dia seguinte pode inibir a gravidez indesejada quando utilizada até 120 horas (5 dias) após a relação sexual. Em geral, uma segunda dose deve ser repetida após 12 horas da primeira (2).

Entretanto, como todo medicamento, a pílula do dia seguinte apresenta efeitos adversos. Náuseas e vômitos são os mais comuns, ocorrendo em até 50% das pacientes. Desta forma, o uso de medicamentos contra o enjoo pode ser feito 1 hora antes do uso da pílula, de acordo com a orientação médica. Caso a paciente apresente vômitos em até 2 horas após ingerir o medicamento, é necessário informar ao médico para orientações sobre o uso de pílulas adicionais (4).

Em algumas pacientes a eficácia da pílula do dia seguinte pode ser reduzida, como por exemplo em casos de sobrepeso ou obesidade. Nesta situação, a paciente deve conversar com o médico sobre a disponibilidade de outros métodos de contracepção de emergência. O uso em conjunto com outros medicamentos também pode interferir na ação da pílula do dia seguinte, portanto, o médico deve ser informado sobre o uso de:

- Medicamentos contra o HIV, tais como: amprenavir, delavirdina, efavirenz, indinavir, nelfinavir, nevirapina, saquinavir, tipranavir;
- Medicamentos para convulsão, tais como: carbamazepina, felbamato, oxcarbazepina, fenitoína e topiramato;
- Medicamentos da classe dos barbituratos, tais como: butabarbital, pentobarbital e fenobarbital;
- Antifúngicos: griseofulvina;
- Antibióticos: rifampicina;
- Fitoterápicos: erva de São João (Hypericum perforatum) (2).

Após o uso da pílula do dia seguinte, deve-se retomar o método contraceptivo, pois a pílula não evita a gravidez em relações ocorridas após seu uso. Se a paciente utiliza como método de rotina a pílula ou adesivo, ela deve evitar relações ou utilizar um método de barreira, como diafragma ou camisinha, por 7 dias. Além disso, caso a menstruação não aconteça em até 3 semanas, um teste de gravidez deve ser feito. O uso de anticoncepcionais de ação mais longa, como injeções ou implantes, só deve ser reiniciado após ser excluída a possibilidade de gravidez. O médico deve ser informado se houver um sangramento anormal ou caso surjam dores abdominais intensas (sintomas de gravidez fora do útero) no período de 3-5 semanas (2).

Em geral, a pílula do dia seguinte é considerada segura, porém só deve ser empregada em situações excepcionais, pois este método tem eficácia menor que os anticoncepcionais convencionais e também expõe a mulher a doses maiores de hormônios. Vale destacar que a pílula do dia seguinte não interrompe a gravidez após a implantação do embrião na parede do útero e não protege contra doenças sexualmente transmissíveis. Portanto se a gravidez não for desejada, utilize sempre um método anticoncepcional adequado. Converse com seu médico sobre a melhor opção para evitar a gravidez e prevenir doenças sexualmente transmissíveis.

Fernanda L. da S. Machado (Farmacêutica)
Revisão: Danielle Maria de Sousa S. dos Santos; Danielle Martins Ventura e Juliana Givisiéz Valente.

Fontes:
1. Hall JE. Chapter 347. The Female Reproductive System, Infertility, and Contraception. In: Longo DL, Fauci AS, Kasper DL, Hauser SL, Jameson J, Loscalzo J. eds. Harrison's Principles of Internal Medicine, 18e. New York, NY: McGraw-Hill; 2012.
2. Micromedex Healthcare Series. DISEASEDEX System. Greenwood Village, CO: Truven Health Analytics, 2014. http://www.thomsonhc.com/, acessado em 01/04/2014.
3. Heron SL, Houry DE. Chapter 291. Female and Male Sexual Assault. In: Tintinalli JE, Stapczynski J, Ma O, Cline DM, Cydulka RK, Meckler GD, T. eds. Tintinalli's Emergency Medicine: A Comprehensive Study Guide, 7e. New York, NY: McGraw-Hill; 2011. 
4. Rosen MP, Cedars MI. Chapter 13. Female Reproductive Endocrinology and Infertility. In: Gardner DG, Shoback D. eds. Greenspan’s Basic & Clinical Endocrinology, 9e. New York, NY: McGraw-Hill.

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